A Patrícia insistiu e eu não pude dizer que não mais uma vez. Decidi ir com ela, segui-la roboticamente para o bar do Artur. A única coisa que me descansava a pulsação era saber que o mar estava mesmo ali ao lado e que sempre me poderia refugiar no conforto do horizonte. Eu não queria ir, mas a Patrícia insistiu e às vezes não há nada como dizer que sim à pessoa por quem ainda sentimos um réstia de amor. A Patrícia às vezes parece uma miragem, um recorte no azul profundo que esbate o oceano e o céu... A Patrícia às vezes parece uma silhueta desenhada na janela e ainda assim consigo amá-la com o mesmo desconhecimento daquela primeira vez em que nos cruzamos. Por isso levantei-me e fui com ela. Apanhei o cabelo, por ela, pela Patrícia porque de vez em quando lembro-me de como ela me dizia que o meu cabelo seco fazia lembrar as cearas de trigo no Alentejo. Apanhei-o para que fizesse lembrar um espiga, por ela, pela Patrícia. Por ela também, acabei naquela festa em que o caos decidiu descer e uma vez mais desorganizar a sossegada ordem das coisas naturais ou quotidianas. Quando chegamos o Artur já suava como se tivesse corrido centenas de quilómetros. O corpo dele contorcia-se em espasmos ocasionais que faziam lembrar um espécie de dança. Bruto, duro como o ferro, acelerado, aceleradíssimo. Assim que viu a Patrícia correu para ela e enleou-a na confusão dos seus braços agitados pela violência da música. Antes disso, senti a mão da Patrícia apertar-me com força, assegurando-me que estaria ali, que talvez estivesse... assim que o meu regresso ao silêncio do quarto se tornasse maior que o meu desejo de agradá-la.
Fiquei sozinha numa cadeira profundamente assoberbada com a agitação. O meu corpo parecia querer mover-se em picos dentro do desenho das notas que, como flechas, disparavam das colunas. Os meus olhos planavam na estratosfera do bar. O desconforto daquele público possúido pela felicidade fazia-me acendar cigarros e beber, beber cervejas. A visão da Laura, finalmente, ainda que naquele momento ainda desconhecesse o seu nome, trouxe-me de novo à consciência do mar e da minha presenaça física naquele espaço. Ela passava, atrapalhada e serena pelos meandros do bar. Trazia o cabelo solto. Sorri de vez em quando, desenquadradamete. Os lábios dela eram pequenas aguarelas pintadas por finas mãos. Desde o dia que chegou aqui à praia que me apetece beijá-la... Enquanto a observava clinicamente, ouvia, ao longe, a gargalhada dionisíaca da Patrícia...
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