A Laura sempre viveu na sua pequena cidade de Castelo Branco. Um espaço demasiado pequeno para ela, para a dimensão da sua mente de viajante. Assim, ela aprendeu a sonhar para alargar esse mundo. Aprendeu a idealizar todas as vidas que poderia vir a conhecer, todas as terras que poderia vir a pisar, todas as experiências que poderia vir a ter. Idealizou primeiro o futuro, depois o passado e começava até a ter tendência para idealizar o presente. Mas ela nunca quis viver dessas idealizações, ela queria tornar muitas dessas ideias, realidade. O máximo que pudesse. Começou a perceber que, se assim queria, tinha de fazer por isso. E o seu maior passo nessa direcção foi a sua ida para Lisboa para estudar, provavelmente até contra a vontade dos pais.
No entanto, deparou-se logo com a dificuldade de lidar com esse novo mundo que tinha à frente e que era bem concreto. Andou de certa forma a arrastar-se, fazendo o indispensável para se manter em Lisboa, mas sem saber que mais fazer para viver experiências novas e sentir-se bem, integrada e realizada. Sentia-se sozinha também. O Professor Orlando foi, então, o primeiro a preencher o espaço vazio que os sonhos e os medos deixavam na Laura. Ele ganhou, por isso, uma dimensão gigantesca na sua vida: para além de preencher a solidão dela, compreendia-a e tinham muitas coisas em comum – coisas do mundo concreto. Ele foi o primeiro a partilhar esse mundo com ela e a mostrar-lhe muito daquilo que ela tinha para viver.
A morte dele fá-la cair numa nova idealização: o que é a morte para qualquer ser vivo? Acima de tudo, uma idealização. Para além dela perder o porto de abrigo onde depositou todos os sonhos e os transformou em vivências concretas, ela voltou a ficar sozinha perante o mesmo mundo ainda desconhecido e umas memórias que não podia partilhar com ninguém. O que é que ela faz? Volta a idealizar, ainda mais que antes.
Até conhecer, finalmente, a Rita, que a faz ter de novo consciência do que pode existir de concreto numa vida e do que isso pode ter de bom para ela. Assim, a Laura volta a sentir vontade de viver, de viver experiências bem concretas! Mas ainda tem um longo caminho pela frente… não é uma tarefa nada fácil…
Inês S.
domingo, 19 de abril de 2009
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E até que ponto o Professor Orlando não é, também ele, uma idealização de Laura? No que diz respeito ao romance que ambos tiveram, não será possível que esse romance não tenha passado da projecção de um desejo (não cumprido) de Laura, de ter alguém com quem partilhar a sua existência, os seus temores, a alegria, etc? E que, desse desejo, tenha resultado a fantasia de um romance?
ResponderEliminarOu, ao contrário, foi algo de real e concreto (no sentido corriqueiro destas palavras)?
Não me identifiquei: sou o Luís (II).
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