Meus amigos,
Terminei agora a cena 18, 19 e 20 sem correcções e reparos finais. O material vai ser enviado amanhã. Já batendo a meia-noite e já que visito este espaço criativo, deixo-vos a inquietação que a escrita revela:
"Minha cabeça estremece com todo o esquecimento.
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa, uma
só coisa coberta de nomes.
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes canta e sangra.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
As pálpebras batem contra o grande dia masculino
do pensamento.
Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.
– Era uma casa – como direi? – absoluta.
(...)"
de Herberto Helder, Poemacto, 1961.
Ana
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário