sexta-feira, 10 de abril de 2009

Je manque mon corps.

AMANDA
Que sítio é este que ocupa o lugar entre a cabeça e o resto do corpo?
Ando a pensar, a pensar sem fim e aquilo que se assoma à minha janela é sempre a saudade. Tanta saudade. Horas na janela, o cheiro do mar invade o meu corpo que o rejeita, mas ao mesmo tempo, ao mesmo tempo faz-me lembrar aquela altura em que eu era uma pessoa mais simples. A saudade abandona o seu vulgar espaço mental, é física, é o corpo e só o corpo que a sente. A minha saudade de sentir o corpo activo, de sentir que o meu amor não é dizível. É o meu corpo que sofre as mazelas do tempo. A cabeça, os neurónios esses mantém-se mais vividos do que imaginas. É o meu corpo, desculpa, é o meu corpo que não reage, é a minha carne que desiste sem pena nem pressa. A saudade é o meu corpo esquecido... Não tenho destreza nos dedos para desenhar o teu rosto ou o tempo da felicidade. É o meu corpo, desculpa, é o meu corpo que não acorda de manhã, que não reage à água fria do banho. Não tenho pressa para chegar a lado nenhum, os caminhos estão abertos há tantos anos. É o meu corpo, desculpa, é o meu corpo que morreu...

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