quinta-feira, 30 de abril de 2009

Observações / escritos / fragmentos de pensamentos da Laura

Hoje decidi ir para a faculdade de autocarro, o que é bastante raro.
Este ainda nem chegou, ainda não passei da paragem e já surgiram figuras muito interessantes. Inéditas até, diria eu.
Uma senhora surge da direita. É careca, tem meia dúzia de cabelos na nuca, meia dúzia atrás das orelhas e mais meia dúzia na zona atrás da franja. Qual a estranheza maior na imagem? Esta senhora usa bandolete. Uma bandolete grossa e preta, como se tivesse uns fartos cabelos!
Pus-me a pensar porque será que ela o fazia. Bem, num sentido mais prático, este facto dever-se-á à meia dúzia de cabelos acima da zona da franja que lhe poderão descer para os olhos e fazer confusão. Num sentido mais psicológico, dever-se-á a uma vontade inconsciente ou não, de ter os cabelos que, provavelmente, já terá tido outrora. Poderá demonstrar apenas essa vontade, ou talvez mesmo uma mente que já vive numa realidade à parte. Põe-se então a questão: terá ela consciência de que não tem cabelos, ou acreditará plenamente na existência deles? Fica a questão no ar.
Passado uns momentos de me ter esquecido de tentar responder a esta questão, surgiu um homem, também da direita e pôs-se ao meu lado em pé. Qual a estranheza dele? Falava sozinho. E não de uma forma qualquer, não. Ele estava convicto do que dizia e havia um receptor algures. Não me pareceu esquizofrenia porque o tal receptor não era um ponto exterior à cabeça dele, ele não parecia acreditar que estivesse alguma figura perto dele a ouvi-lo. Não, o receptor parecia estar somente na cabeça dele. O que será isto então? Alguma forma de doença na mesma? Alguma forma de demência? Ou será simplesmente o exteriorizar de pensamentos dicotómicos das várias vozes que todos temos na cabeça? Mais uma questão sem conclusão.
Entrei para o autocarro. Uns minutos mais tarde uma senhora ao meu lado quase morre de um ataque de tosse, talvez se tenha engasgado. Ninguém a tenta ajudar...


Em "bloco de escritos" da Laura

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